domingo, 4 de março de 2018
A musicalidade gastronômica - um paralelo da história gastronômica brasileira e a música nos anos 50 e 60.
Uma cozinha não vive só de sons de panelas, chefes gritando, água fervendo e estômagos roncando, vai muito além disso. Demonstra a sonoridade da alma de um povo, seus costumes, seus hábitos. A história gastronômica brasileira traz uma grande mistura de raças e povos: indígenas, portugueses e africanos. Por outro lado, a música brasileira das décadas de 50 e 60 expõe grandes nomes e movimentos: João Gilberto, Tom Jobim, a bossa nova, dentre outros. Traçar um paralelo entre duas artes é mostrar a grande afinidade entre elas.
Os povos indígenas eram os primeiros habitantes de nosso país , antes de serem colonizados pelo povo açoriano. De grande criatividade culinária e de ingredientes sem grande variedade, faziam da mandioca farinha, biju, bebidas e outros derivados. O dom maior era este fazer do simples um verdadeiro espetáculo. Muitas décadas depois, mais precisamente em 1958 o jovem João Gilberto que tinha uma grande habilidade com violão usou desta simplicidade musical e criou um movimento revolucionário: a bossa nova. Para entender melhor é necessário retornar um pouco na história.
Os anos anteriores a bossa nova eram característicos de grandes orquestras, com músicas dor de cotovelo, cantores com roupas exuberantes e o som dos instrumentos chegava a ser mais altos do que a própria voz do artista. Grandes nomes como Maysa, Tito Madi, Morgana fizeram sucesso nessa época. O tradicionalismo imperava na música brasileira, assim como os portugueses colonizadores. Cabral não chegou necessariamente com uma orquestra, mas com sua esquadra achando que indigenas iriram aprovar seus costumes. Pelo contrário, tentaram de tudo, mas viram que alguns ingredientes daqui era novidade e começaram um processo de extração infinita para só muito depois começar um intercâmbio de ingredientes. Não se sabe ao certo tudo que portugal trouxe aos brasileiros, mas sabe que assim como as grandes orquestras se renderam ao ritmo cool e mais calmo da bossa nova eles se entregaram as delícias dos indígenas.
Tudo estava maravilhoso historicamente na gastronomia indígena-portuguesa, como na música brasileira e a bossa nova, ate surgir duas figuras inusitadas: os africanos e Tom Jobim. Em épocas diferentes, mas como o mesmo estilo apimentado e apaixonante vieram temperar a vida. O ciclo do açúcar começou no Brasil e junto vieram os escravos, não eram pessoas simples no seus países e tinham grande conhecimento na cozinha, seja no modo de preparo ou nos temperos. Fizeram uma revolução gastronômica, juntaram os ingredientes indígenas com os portugueses e com um dedo especial e temperos originais transformaram a comida do branco. Tom Jobim não foi diferente, devido sua formação musical era o único que conseguia partir do erudito para a música brasileira com grande autoridade. O que ele fez? Juntou as orquestras antigas com o som de João Gilberto e criou sua própria bossa nova, assim como os escravos entraram e transformaram na cozinha, Tom Jobim transformou a música brasileira.
Seja na história criada ou na música cantada temos a ginga brasileira e damos show para encantar todo o mundo. Que possamos ter a mesma sublimidade e critividade dos indígenas e de João Gilberto, o mesmo ímpeto das orquestras e a coragem de desbravamento dos portugueses e possamos enfim com a autoridade de Tom Jobim criar e recriar a vida apimentada com os aromas africanos.
por Mariana de Castro
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